quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Carta para os meus Pais




Mãe e Pai,


Há tanta coisa por dizer, e tão poucas palavras que me pareçam adequadas. Lembro-me de nos piores momentos passar noites em branco a pensar no que vos iria dizer da próxima vez que discutisse com vocês. Houve momentos em que vos odiei tanto... nunca saberão o quanto. Se que não sou a filha perfeita. Nunca fui e nem nunca serei, embora por vezes pareça que gostavam mais de mim enquanto pequena, filha única, sem dar problemas, a melhor aluna na escola... agora nem tanto. Por vezes tenho saudades desses tempos, e entristece-me pensar no quanto a coisas mudaram desde esses tempos. O quanto eu mudei... entristece-me pensar que vos desiludi, que não sou a filha que vocês desejavam, que parece que só faço porcaria, quando vos respondo mal... mas há coisas que me irritam tão profundamente... nem sabem. Parece que ainda me tratam como uma criancinha, eu tenho 14 anos, não me podem continuar a tratar como se tivesse 10 anos. Sei que só me querem proteger mas, não me podem proteger para sempre e, se eu não descobrir a vida agora, enquanto vocês ainda aqui estão para amparar as quedas, quando é que eu o vou fazer? Não preciso que me deixem fazer tudo o que eu quero, longe disso, mas sejamos francos, qual é o problema de me deixarem ir ao cinema com os meus amigos? Qual é o problema de me deixares participar nas coisas da igreja, pai? Sei que és contra a religião mas eu acredito e devia respeitar isso, além disso, sei ir e voltar sozinha, lá tenho a maior parte (que não são muitos) dos meus amigos, sinto-me bem lá, por vezes, até melhor que em casa... porque não respeitas isso? Porque não posso ir à praia com os meus amigos, mãe? Será que não entendes que tenho juízo e que as praias são vigiadas, e que não vou com uns loucos quaisquer. Sei que os vossos pais eram mais severos convosco mas sejamos realistas, os tempos mudaram. Porque é que têm sempre a mania de que eu vos estou sempre a esconder algo ou a mentir mesmo quando falo verdade? Porque é que têm que andar sempre a vasculhar nas minhas coisas à procura de coisas que não existem? Querem que eu vos respeite, mas e onde é que está o vosso respeito por mim? Porque acham sempre que tudo o que faço é para chamar a atenção? Porque é que acham que tudo o que faço tem sempre segundas intenções? Porque é que nunca me elogiam as boas notas? Porque é que nunca vêm os vários 5 na pauta, e aquele pequenino 3 ao canto vos parece sempre tão grande? Porque é que nunca faço nada direito? E quando faço nunca o dizem? Porque é que parece que sou uma enorme desilusão? Entristece-me o facto de neste momento não conseguir dizer que vos amo, apesar de ser verdade, de não conseguir dizer que são uns pais maravilhosos, que peço desculpa por tudo o que fiz de mal (que apenas farei depois de vocês o fazerem também) e por não exaltar nesta carta o quanto gosto de vocês... Mas acima de tudo, o que entristece mais, é o facto de saber que esta carta apenas é o que é, e diz  que diz, porque sei que nunca a vão ler, porque sei que há coisas que nunca terei coragem de vos dizer...
Beijos,
Margarida

Sem comentários: