quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Carta para a pessoa falecida com quem eu gostaria de falar

Sr Manuel,

Sabe, foi um prazer conhece-lo. Foi um prazer ter-me cruzado consigo neste caminho a que chamamos vida. Foram uns breves 14 anos e 5 meses... quase toda a minha vida, mas ainda assim, passou num instante. Sei que neste momento responderia "Oh Guigui, deixa-te dessas coisas..." mas não sei, acho que há coisas que têm que ser ditas, ou escritas neste caso. A verdade é que de entre todas as pessoas que já partiram a sua partida é provavelmente aquela que mais me custou. Apesar de não me ser nada, era avô dos meus primos, e acho que ao longo dos anos se foi tornando um pouco também meu avô. Sabe, como aquele que nunca tive e sei que nunca hei de ter. Daqueles que brincam connosco, que nos ensinam anedotas e adivinhas, que contam histórias, que assistem ás nossas falhadas tentativas de fazer magia, aos circos improvisados no jardim, ou que dava opinião sobre as pulseiras que fazíamos. Partiu cedo de mais, é a conclusão a que penso quando me lembro de que já não está entre nós. Aos poucos foi consumido pelo cancro. Nem a guerra em que combateu o derrotou, mas foi a menos esperada e violenta batalha que levou a melhor. O cancro venceu-o naquela noite em que disse "Com o tempo que passou não era suposto ainda estar neste estado." e foi também nessa noite que se despediu da sua mulher, porque sabia que a sua hora tinha chegado... há uns dias estive em casa dos tios, e não posso negar que fez imensa falta na festa. A sua assídua presença no sofá para dizer, quando eu chegasse "Olá Guigui, estás muito bonita hoje..." para me dar dois beijinhos e me dizer que já estou uma senhorinha... que o Guéu está no quarto e os miúdos a jogar á bola ou playstation. Fez tanta falta... e ainda mais falta fez quando, no baptizado do Dinis o tio lembrou "Todos os quadros na casa foram pintados pelo meu sogro." para os desconhecedores. E foi impossível as lágrimas não me virem aos olhos quando vi, na parede do quarto do Manel, o seu último quadro. Aquele que nos lembra de que partiu sem aviso. Aquele que grita "Ele morreu!" aquele que não foi acabado. Não tem assinatura. Não tem os pormenores. E grita tão alto... Só queria que soubesse. Que soubesse que significa para mim, tão mais do que aquilo que sabe... Obrigada.
Um Beijo,
Guigui

4 comentários:

Unknown disse...

Adorei a carta! Imagino a falta que essa pessoa te faz... Prende-te a essas boas recordações e aos bons momentos passados com ela porque de resto o tempo ajudará a cicatrizar a ferida...

Anónimo disse...

Adorei a carta, e é uma coisa insubstituível perder alguém assim importante para nós. Com o tempo fica mais fácil,e as boas coisas ficaram bem guardadas :)

Margarida disse...

Obrigada... sim, eu acredito que o tempo melhora tudo, quer dizer, nada pode durar para sempre...

Margarida disse...

É... simplesmente há pessoas de quem sentimos falta, sobretudo quando vão assim, inesperadamente e sem aviso prévio.